Uso de crack se alastra pela cidade e assusta população

Até o mês de abril, foram recolhidas 70% do total de pedras apreendidas em todo o ano passado

PUBLICADO EM 04/06/13 - 03h00
Curvelo.
Era fim de tarde, quando mãe e filho fumavam crack em um terreno baldio de Curvelo, na região Central do Estado. Entre uma alucinação e outra, a mulher de 38 anos conta que voltou ao vício há dois anos, depois que o filho mais velho foi preso. Acompanhada de outro de seus seis filhos, um garoto de 15 anos, ela se encontrou com um grupo de pessoas para compartilhar mais uma pedra da droga no espaço conhecido como Buracão, na Vila de Lourdes. Sem emprego e morando na casa da mãe, ela usa crack há 11 anos.
       O bairro pobre e cheio de becos do município de 75 mil habitantes, distante 170 km capital, é só mais um a sofrer com a proliferação do crack, que já atinge quase todas as regiões da cidade e cresce também nos municípios do entorno, como Inimutaba e Felixlândia. Com um número de usuários cada vez maior e o consequente fortalecimento do tráfico, a Polícia Militar (PM) de Curvelo já registra a presença do crack em 50% das ocorrências envolvendo drogas. Somente até abril, a polícia retirou das ruas 1.100 pedras de crack, o equivalente a 70% do que foi apreendido em todo o ano passado. Já há, inclusive, formação de mini-cracolândias, pontos onde os usuários se concentram.

A reportagem visitou a cidade e encontrou várias histórias envolvendo o crack, principalmente nos bairros Passaginha e vilas São José e de Lourdes. Uma adolescente de 15 anos, por exemplo, conta que foi morar com a tia depois de a mãe se viciar e vender todos os móveis e objetos da casa.

Moradora de Curvelo há 15 anos, a dona de casa Maria Helena, 50, viu a filha Juliana (ambos nomes fictícios), 27, sucumbir ao vício há quatro anos. Ela conta que o crack veio por meio de um grupo de amigos e, nos períodos mais difíceis, saia para buscar a filha de madrugada em cracolândias, depois de ela passar até oito dias fora de casa. “Já cansei de tirar minha filha das bocas de fumo. Ela chegou a pesar 40 kg”, diz. Hoje com 60 kg, Juliana não conseguiu largar o crack. A jovem tem três filhos, de 9, 6 e 1 ano, mas mora apenas com o mais velho. Os outros estão com os pais.

“Comecei usando maconha na adolescência, mas foi uma coisa rápida. Acho que uso o crack para esquecer de tudo, para fugir dos problemas. Quando a gente usa, não sente mais nada”, desabafa a usuária, que agora busca tratamento. Mas, como Curvelo não tem clínica para reabilitação de mulheres, ela tenta reunir R$ 300 para se internar fora do município. A família, no entanto, vive apenas com o salário mínimo do pai, um auxílio do Bolsa Família e o dinheiro de bicos de manicure que mãe e filha fazem.

Criminalidade.No bairro Passaginha, é possível encontrar, no meio da tarde, adolescentes vendendo drogas. As consequências são o aumento de pequenos furtos e de episódios violentos. “Na semana passada, dois homens morreram no Passaginha por causa da disputa do tráfico. Também mataram um trabalhador porque acharam que ele tinha dinheiro”, afirmou um morador.

“Tem droga demais. E tem gente de todas as classes sociais usando. Pessoas que eu nunca ia imaginar estão se drogando”, conta outra moradora que, por medo, prefere não ser identificada.
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Crack
. Apesar de polícia e outras autoridades não precisarem a chegada da droga em Curvelo, moradores dizem que o crack chegou à cidade em 2001, se alastrando com maior intensidade a partir de 2003.


Saiba mais

Tráfico. Apesar de estar presente na maioria dos bairros pobres de Curvelo, os moradores dizem que os traficantes não os incomodam. Em geral, os usuários vão até os pontos de venda buscar a droga.

Famílias. Membros de comunidades terapêuticas relatam que, em Curvelo, existem famílias inteiras viciadas no crack. É comum crianças e adolescentes se envolverem com a droga.

PUBLICADO EM 04/06/13 - 03h00